quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

À lista (primeira parte)

   A existência desse blog assaltou-me e - ao invés de roubar algo, como aquele verbo comumente infere, deu-me uma ideia - a de postar algo por aqui. Pensei em alguma estorinha que ocasionalmente, devido aos enormes hiatus no qual esse espaço sofre, dá as caras por aqui. Entretanto, na preguiça do criar jaz meu corpo, por conta disso resolvi fazer uma lista, sim, uma lista! Sobre o quê o leitor fantasma perguntaria. Sobre os 10 romances de maior qualidade que - obviamente - já li nesse período de tempo, nem tão grande, mas, consideravelmente razoável, a que me dedico à leitura de obras literárias. Levando em conta que só posso enaltecer aquilo que conheço, no caso, aquilo que li, é difícil alguém ter algum conflito no que tange às minhas escolhas, a menos que esse alguém tenha conhecimento de, pelo menos, grande parte da minha carga de leitura feita até o presente momento. Meu intuito não é, de maneira alguma, suscitar discussões menos brandas, porém, sim, tentar, de alguma forma, a partir dessa lista, incentivar o conhecimento dos livros que aqui serão citados. Espero comentários, mesmo que sejam para ir contra minhas ideias; debates normalmente são frutíferos. Fiquem à vontade para dar dicas de obras também, elas sempre são bem-vindas.
   As escolhas foram árduas e é importante frizar que, do primeiro ao décimo, se fosse uma corrida, poucos milésimos de segundos os separariam.
   Dividirei em dois esse post: o primeiro, obviamente, do décimo ao sexo, e o segundo, o restante. Faço isso com o pensamento de não ser tão enfadonho.
   Não é meu objetivo mencionar 10 romances que devem ser lidos antes morrer ou algo com tal dramaticidade; o meu critério foi subjetivo, os romances que mais me atraíram estão aí, me desculpem se deixei de fora vários cânones da literatura mundial, mas os romances listados aqui foram de mais valia no que tange ao meu agrado, apenas isso.
   Por último, decidi escolher apenas uma obra de cada autor, para que haja certa diversificação autoral. Entretanto, não deixarei de lado obras grandes dos autores que conheço mais aprofundadamente.

10) O passado(2003) - Alan Pauls



   Para o décimo lugar fiquei entre duas obras: esta e  Dois Irmãos de Miltom Hatoum. Como a literatura contemporânea brasileira estará aqui presente, decido ceder espaço à contemporaneidade literária argentina com a genialidade de Alan Pauls. Lançado em 2003 em seu país de origem e em 2007 por aqui - pela Cosac Naify - O passado trata principalmente de Rímini que, sem explicações maiores, separa-se de Sofia após 12 anos de relacionamentos. O romance é uma construção persistente do passado, o foco da narração, na maioria da obra, estabiliza-se em Rímini, porém a sombra, Sofia, está presente como coadjuvante dentro, mas, também, persistindo exteriormente no protagonista. Fotos, muitas foram tiradas, após o rompimento cabem aos dois decidir como se dará a separação dessas milhares de imagens - o passado físico. Não entrarei em maiores detalhes sobre o enredo, mas as desventuras, as estórias em paralelo, o estilo único de Alan Pauls: tudo isso faz com que essa obra seja única, uma explosão de sentimentos levada às últimas consequências em suas descrições.
Do mesmo autor: A história do pranto também vale a pena, seria até interessante lê-lo antes de O passado, para que o estilo de Alan Pauls seja conhecido e não haja tanto choque.

9) Amada (1987) - Toni Morrison


A vez agora é da literatura americana e de seu contexto político-social retratado de maneira chocante em Beloved (br: Amada). Romance que também nos leva ao passado, sendo ele cruel, demasiado traumático. Sethe, a protagonista da obra, foge da fazenda onde era escrava, no sul dos EUA, para o norte e ,assim, obter sua liberdade. Toni Morrison narra com brilhantismo a saga de Sethe e outros (ex) escravos, colocando em questão a permanência do trauma na mente de homens e mulheres que passam por situações subhumanas, apenas com o objetivo de sobreviver. O trauma se materializa na figura de Beloved, uma jovem que aparece sobrenaturalmente em frente a casa de Sethe.
Da mesma autora: Infelizmente não li mais nada de Toni Morrison, mas logo o farei, pois apenas a leitura de Beloved me cativou fortemente. Agradeço se houver alguma sugestão de leitura.

8) O encontro marcado (1956) - Fernando Sabino


    Não é tão simples assim encontrar autores que escrevam com tanta simplicidade, mas, ainda sim, abordando temas extremamente relevantes de maneira aprofundada; um deles é Fernando Sabino, que não é lá tão prestigiado na maior parte da crítica literária. O encontro marcado é um romance de uma vida, a do protagonista, Eduardo. No estilo informal de Sabino, a leitura nos atrai mais e mais, as façanhas, frustrações, dúvidas, intermináveis conflitos internos de Eduardo são espelhados diretamente para o leitor. O grande triunfo desse escritor mineiro é conciliar brilhantemente uma linguagem coloquial com temas de certa profundidade. É um romance que não deve ser lido, apenas o é por ser encantador, atraente a partir da primeira página. Essa obra nos busca no nosso âmago: é impossível passar ileso por ela.
Do mesmo autor: Sabino escreveu principalmente crônicas e contos, com qualidade inquestionável. Porém, já que estamos lidando com romances, O grande mentecapto é de uma leitura deliciosa. Vale a pena a leitura.

7) A grande arte (1983) - Rubem Fonseca

   O mundo fonsequiano é maravilhosamente degradado. Sexualmente, politicamente, eticamente, socialmente, tudo isso degradado, a partir, obviamente, da nossa visão de mundo. A grande arte tem como protagonista o advogado criminalista Mandrake, mais detetive (sempre fracassando) que advogado, na realidade. Esse encantador canalha é quem nos guia nas várias tramas de um romance que retrata uma sociedade única, na qual nos simpatizamos por assassinos, por amorais, por cínicos. Não se alarme, dentro do universo de Rubem Fonseca isso é altamente normal; ele é um grande construtor de personagens bizarros que nos atraem pelas suas justificativas, seus traços de humanidade.
   A grande arte pode fazer referência ao manejo preciso de armas brancas. Ela é, também, no entanto, a grande arte de escrever e criar; o trabalho do ficcionista que nesse romance é genial, sem nenhum medo de usar esse vocábulo.
   Não há necessidade de comentar o enredo desta obra-prima, ele fala por si só no exato momento que começamos sua leitura. Leitura, aliás, que flui com facilidade, com diálogos bem construídos, ora cômicos, ora extravagantes, ora supérfluos. Subliteratura nada! A grande arte é a prova de como o romance policial, bem construído, pode ir muito além do entretenimento.
Do mesmo autor: Fonseca é mais conhecido pelos seus contos; de qualquer modo, os romances O caso Morel e, principalmente, Agosto confirmam em qual arte este autor é gênio: ficcionalizar.

6) O perfume (1985) - Patrick Süskind

   Acredito que essa seja uma história minimamente conhecida, já que o livro foi transposto para o cinema em 2006. A narrativa se passa no século 18 na França e apresenta uma atmosfera deteriorada, sufocante, fétida, cheirando a urina, merda, madeira podre, enxofre etc. Num parto extremamente bizarro, como se fosse cuspido, Grenouille nasce, uma figura que não enternece a ninguém, pelo contrário, enoja a todos sem uma razão plausível, aparentemente. Ele não transmite nenhum odor, no entanto é capaz de capitá-lo com agudez sobrenatural. São essas duas características, em termos gerais, que dão vida à narrativa.
   Grenouille tornou-se logo um mestre na arte de fazer perfumes e encontrava, de modo contido, grande prazer nessa atividade. Entretanto, seu maior prazer era preservar a fragrância de jovens virgens. É na jornada pela captura do melhor odor possível que o protagonista mata, pois é a única maneira de prendê-lo em sua forma mais original possível.
    Süskind constrói a história de um sentido levado ao extremo, ao prazer, ao assassinato. Grenouille é escravo de seu olfato, como algumas vezes somos de qualquer outro sentido; ele o controla, deixando-o sem livre arbítrio, ele deve capturar essas essências, não há outra saída.
   O perfume descreve de forma fenomenal a jornada de um estranho, um serial-killer que não odíamos, pois retrata um egoísmo puramente humano na busca do maior poder possível.
Do mesmo autor: Caso não esteja enganado, O perfume é o único romance do alemão Patrick Süskind, no mais ele escreveu novelas e uma peça de teatro. Caso tenham algo a me indicar dele, por favor o façam, já que esse romance é a única leitura que tenho desse escritor, pelo menos nessa obra, genial.

(A segunda parte do post estará por aqui até o dia 6 de Janeiro, no máximo. Abraços)

sábado, 15 de setembro de 2012

À necessidade


Ainda não era tarde o suficiente para eu fazer o que iria naquela noite, mas o fiz, com motivos o suficiente para não me arrepender. Falam tanto sobre a necessidade de descarregar sua respectiva energia extra, pressupondo-se que a tenha, que eu caí nessa; precisava daquilo; porém, infelizmente não puder ir à academia naquele dia. Vigor em excesso não havia, mas em casos como esse se encontra o que é indispensável para que se satisfaça certo desejo.
O ônibus passou relativamente atrasado. Pelo horário da companhia, que não quer dizer lá muita coisa, estava doze minutos, quase treze, atrasado; o que, de certa maneira, acabou por me deixar um pouco menos calmo.
Estava dentro daquele móvel desajeitado, procurando um assento. Achei-o atrás de uma gorda que o escondia quase por inteiro. Digo, o ônibus não estava lotado, havia um ou outro lugar para se sentar, de qualquer modo, o espaço que ela ocupava ali era absurdo. Ela sentava em bancos duplos, teoricamente para duas pessoas, no qual, no caso aqui relatado servia para ela, mais sua pequenina bolsa. Aquele exagero de mulher ainda fazia questão de sentar-se no primeiro banco, obstruindo a passagem para alguém que fosse corajoso o suficiente para tentar arranjar-se ao lado daquela enormidade. Além de tudo isso, que até hoje me enoja, ela estava vestindo óculos escuros enquanto que o sol já tinha desistido há mais de meia-hora.
Andava numa cadência agonizante aquele veículo. E aquilo na minha frente. Eu pensara em mudar de lugar, mas já era tarde demais, os bancos todos já haviam sido tomados e ainda haviam passageiros em pé. Uma bolsa, entretanto, estava sentadinha. Ousam colocar em questão minhas justificativas, que besteira!
Em um ponto do caminho, ela abriu um saco no qual deveriam conter uns três pães de queijo. Devorava aquilo. O asco me possuía cada vez mais e eu lembrava que não tinha ido à academia naquele dia. Pensei que se ela descesse num ponto sozinha, eu iria segui-la, iria estudar o local, iria,ahhh, iria!
Ela desceu sozinha, todo aquele complexo gorduroso, caindo de um lado para o outro numa preguiça que me avassalava. Decidi segui-la. Ela morava numa casa grande demais, que estava escura, aparentemente INABITADA naquele momento. Ahh, sentia meu braço fraco, maldita falta da academia, preciso me exercitar sempre.
Eu não tinha um plano, não sabia como agir. Não havia roupas extras, nada. Porém, a escolha já fora tomada.
Ela entrou, por um descuido não trancou imediatamente o portão, estava em casa, não havia perigo. Esperei uns minutos e o abri. Fez um barulho escandaloso, porém nada se manifestou. Porta também destrancada, música vindo de um cômodo. Na cozinha recheada de guloseimas achei um martelo de madeira, outro de aço. Peguei o segundo, chequei-o: parecia confiável.
Não poderia acender nenhuma luz, mas fotos ali existiam, na sala, ela sempre voluptuosa, pelo menos era o modo como eu queria enxergá-la.
Distingui de onde aquela música vinha: do banheiro, escutava-se o característico barulho de um chuveiro por trás daquela cantoria gorda.
Aberta, escancarada estava aquela porta do banheiro. Escondia-se um corpo enorme dentro daquele box. Não notou minha presença. Bati a porta do banheiro. Ela, com aquele corpão, foi corajosamente ver o que estava acontecendo. Assim que a cabecinha dela colocou-se para fora daquele cômodo, o martelo mecanicamente a acertou na parte de trás de sua cabeça. Não queria matá-la ainda, mas aquele objeto o fez. Daquele tamanho e tão fraca. Queria acertá-la diversas vezes, fazer meu exercício. Mas não, nem para isso aquele peso para o mundo me ajudou.
Nem pensei em limpar a poça de sangue dali. Eu estava transtornado, decidi ir a pé para a minha casa, mesmo com manchas em minha camiseta negra. Ninguém sequer reparou.
Abri a porta de casa, meu gato me saudou na sua maneira discreta. Guardei o martelo em minha cozinha. Depois iria me livrar daquilo.
Coloquei uma roupa apropriada e fui correr um pouco. Eu precisava do meu exercício!

domingo, 26 de agosto de 2012

Ao não.



         
            Fiquei estirado naquele chão azul fitando a desistência do sol. Ele vai desaparecendo aos poucos, levando consigo a sua claridade, aquela luz forte vai se enfraquecendo, tornando-se avermelhada, alaranjada. Algumas nuvens espessas brancas com leves contornos em cinza liberam a fragrância da satisfação.
           - Para que fazer sentido? Meu amigo pergunta perturbado.
           Respondo friamente balançando a cabeça negativamente - não sei - num movimento preguiçoso. O que realmente não fazia sentido era a efemeridade daquela situação. Não apenas a amalgamação das cores trazia uma sensação de vivacidade, mas também aquele contexto. O êxtase em forma de calmaria, brando, apesar do céu enegrecer raivoso com o passar dos segundos.
          É a linda sinfonia do silêncio que nenhuma tecnologia consegue reconstruir. É a inefável vida transformada numa morte delicada, o corpo transcendendo, indo além, chegando ao céu já completamente obscuro.
           - Para quê fazer sentido? Meu amigo não estava mais ali, aquele era agora o eco de uma voz sombria, carregada de ódio. Ela repetia incessantemente essa sentença. Eu gostaria de me libertar, ilusoriamente...que fosse.
             Abro os olhos absorto num entorpecimento cruel, macilento, nojento. Não faço sentido, desfaço um céu, desfaço um chão azul, esvaneço para o inferno. Toco o seu rosto, não faz sentido, que reciprocidade é essa?
             Não faço sentido, seria um absurdo fazê-lo. Vago, apenas vago pelos seus sentimentos imprecisos. Não enegreça, não ouse se materializar, preciso do ideal; do que não pode ser tocado, do que não se putrefaça.
            
          

domingo, 27 de maio de 2012

À Celebração


Pensando mais friamente, depois do ocorrido, reflito que talvez nunca tenha me apaixonado realmente. A razão sempre residiu em mim, obstruindo toques de loucura que poderiam ser benéficos. De todo modo, eu entendo aquele que é insano e age dessa maneira, encontrando justificativas plausíveis para tanto. Elas têm que fazer sentido dentro do próprio ser, e isso não é negado. Entretanto, quando a ação se exterioriza, as conseqüências podem se tornar fatais, num processo de destruição não apenas de si mesmo, mas também do objeto venerado.
Eu concordei em ser o cúmplice de tão belo ato romântico. Era uma quarta-feira, ou quinta, não me lembro muito bem. O amanhecer veio com tanta força que até o próprio sol chorou, deixando-nos na semiescuridão de uma tarde chuvosa.
Permaneci sentado do outro lado da rua, num ponto de ônibus, de frente ao lugar onde a celebração de sentimento tão nobre iria ser posta em prática. Minha visão estava um tanto quanto turva por conta da nebulosidade, mas ainda sim eu conseguia sentir, ao longe, quase não vendo, aquela declaração.
Meu amigo parecia nervoso, talvez estivesse hesitando, tremia um pouco, ou eu queria que ele parecesse daquela maneira, não sei ao certo. Não havia quase ninguém nos arredores, apenas carros passando numa velocidade em que nada os chamaria a atenção.
Ele finalmente adentrou o lugar, não havia filas, eram três atendentes para um consumidor, ele. No entanto, meu amigo reservava sua visão para apenas uma delas, a sua grande paixão, a sua musa, que conversava animadamente com suas colegas, no ócio do trabalho. Quando ela o viu, percebeu-se certo horror em sua fisionomia, que foi se diluindo até se chegar a uma sensação de serenidade, ainda não completa, porém.
Pareceu-me que ela foi ao encontro dele, sendo que este remexia seu bolso, carregando ali o presente do amor incondicional. Conforme a loja estava fazia, ambos – importante frisar – beijaram-se, encontrando-se os corpos, sem um abraço completo, pois a mão dele permanecia estancada naquele buraco de suas vestes. Eu pouco podia ver ou, por mais estranho que pareça, sentir, também, uma das mãos da futura desposada. Notei, apenas, uma dor descomunal no abdômen dele, que poucos milésimos de segundos antes havia deferido seu carinho. Os dois, separando os lábios vagarosamente, foram-se ao chão, com os corpos ainda juntos caíram na amalgamação de suas respectivas poças escarlates. Ali, o único fato que sei perfeitamente, é que se casaram na morte.
Os objetos que levaram aquela união, assim como os cadáveres, jaziam inanimados no chão, sem saberem o que tinham conquistado. A eternidade, foi isso que aquelas duas facas, parecidíssimas, haviam ajudado a celebrar.
Apaixonar-me deliberadamente? Sim, flerto com a morte.

sábado, 7 de abril de 2012

Aos esclarecimentos


   Fato é que algumas pessoas têm uma necessidade que se encontra no âmago da alma de se explicar. Eu até tentaria encontrar razões para isso, mas entraria num campo em que sou mais leigo que nos outros, o da psicanálise. Apesar de eu ter me controlado anteriormente, tenho a qualidade na qual qualifiquei “algumas pessoas” – a de explicar tudo o possível, até em demasia. E é por isso que esclarecerei alguns aspectos deste espaço por poucos lido, porém quando o é, isso é feito por pessoas com, aparentemente, um bom nível cultural e intelectual, ou pelo menos disposição para algo que não merece tanto atento.
   O primeiro aspecto que gostaria de contornar - apenas isso, por que se eu fosse a fundo estaria sendo contraditório ao que aqui será dito, é o tamanho dos textos postados por mim. Acredito que se Poe vivesse atualmente teorizaria que os textos que participam do gênero blogse gênero ele for considerado, são escritos para ser ler “numa sentada rápida, na hora do almoço do trabalho” (as aspas são pertinentes por que seriam palavras de um dos maiores contistas de todos os tempos, se o dito cujo estivesse vivendo em nossos tempos). É por conta dessa característica que os meus textos – nada mais que isso são, apresentam o predicado de serem curtos (o “ruim” eu deixo para vocês pensarem). Até tenho “contos” (aspas também pertinentes por eu não querer considerar o que por mim é escrito literatura) mais longos, mas não acho que esse seja o espaço reservado para eles. No entanto, se alguma alma masoquista os quiser ler, seria uma boa ideia entrar em contato comigo.
   Segundamente, gostaria de explicar a velhice desse blog e de seus velhos posts. Desde 2009 no ar, já coloquei o coitado de lado diversas vezes e não garanto que isso não voltará a acontecer, por conta disso que há longos hiatos entre postagens. Como eu não nego o que fui, sobre o que falei, amei, odiei, odiei e amei e às vezes parece que continuo carregando esses sentimentos pelos mesmos assuntos, coisas ou pessoas, não vou apagar o que foi postado por mim nos primórdios desse saite( fique com o seu Deus, mestre Millôr). Pode-se ver nas minhas primeiras palavras aqui o futebol sendo tratado, isso continuará neste local, no baú virtual, mas esse assunto não será mais tratado literalmente, digo, ele por si só, talvez como mote para algo, enfim. Não renego, de maneira alguma, meu amor por esse esporte. Decido continuar com esse mesmo endereço eletrônico, talvez por preguiça, talvez por não haver necessidade de outro ter. O que registrado aqui foi um dia, por pior que seja, continuará, até por que eu gosto de saber se há evolução nesse meu hobby.
   De modo terceiro, vocês podem ver que existe no lado direito da tela de vossas senhorias, um quadro com o título “Filme e Livro da semana”. São apenas dicas, eu até desejaria falar sobre cada escolha minha, porém o tempo se esvai rapidamente, e ele não me restaria no caso de eu entrar nesses assuntos. São livros (romances ou de contos, normalmente) e filmes escolhidos ao acaso (isso pode não ser verdade), valendo bem ressaltar, todos devidamente lidos e assistidos. Apesar do título, esse espaço será atualizado quando o blog o for e não sei se isso acontecerá semanalmente. Enfim, repete-se que são apenas dicas, por vezes podem até ser vistas como bobas, mas que, de alguma maneira, eu apreciei. Tudo subjetivo.
   Por fim, digo que é isso. Saliento também que o que aqui é escrito não deve ser visto como relatos autobiográficos, já que o que é sentido por um é passivo de o ser por todos.  A busca da universalidade é almejada até em textos onde há particularidades de ação. Escrevo aqui para me entreter e, se eu for apto, de tabela também fazer com que os leitores sintam pelo menos um pouco de prazer estando aqui. Lembro que a famigerada palavra inglesa feedback é importante para mim, por isso, sempre que puderem, peço que comentem. Vital é a sinceridade, mas nela também há males. Fechando, o texto curto aqui não se encontra, me contradigo sempre, peço perdão.

sábado, 31 de março de 2012

À Queda


   Aquele momento em que se escorrega da vida, parte-se do suor para a queda. Queda livre, dizendo-se bem, até o encontro provavelmente derradeiro com a matéria. A partir daí já não se sabe mais o que é livre ou não, já que o resultado também nos é uma incógnita, mas mesmo senão o fosse, a interrogação continuaria. Ela sempre continua, apesar da procura incessante de repostas, esquecendo-se sempre da pergunta. Alguns nos chamariam de burros, eu iria mais pelo lado da ingenuidade, que de burrice muito já é justificado.
   Eu estava falando da queda, pois bem, nos voltemos a ela. Ela pode ser metafórica ou real, falemos sobre o que existe, independente da sua escolha, porém, para mim, aquela é, por mais bizarra e porca que seja, mais charmosa que a outra, sempre cruel, sendo ela qual escolhemos. Entretanto, a minha voz não se faz presente aqui.
   A queda pode ser fruto de um tropicão, o que soaria bobo, mas como estamos falando de realidade, foi assim que se sucedeu. Tropicou-se e caiu-se. Temos atos em cadeia. Poderíamos pensar que se tropicou, caiu-se, desfaleceu-se, morreu-se. Sem saber quem é, tudo é muito bom e divertido.
   A sucessão aqui está clara, pelo menos para quem escreve. Quem lê, o faz como quer, caso queira. Quando a queda de algo tão importante é vista por esses olhos, ela vai-se em câmera lenta, pixel por pixel, para usar a linguagem mais apropriada. O meu tropicão o fez cair, eu tentei agarrá-lo, mas meu reflexo não foi o suficiente para poupá-lo do choque que poderia ser fatal, se o foi saberemos se vida há.
   Para medir o tamanho da tragédia devemos ser honestos, a queda é grande dependendo do tamanho daquilo que cai e da distância. Nesse caso, então, agradeço por poupar-lhe a vida, ó Deus, que deve haver um que cuide dessas criaturas. Ele está vivo, o celular sobreviveu à queda.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A algumas pessoas.


   Alguém passou a frente de um hospital e viu alguém chorando copiosamente. Alguém morreu, transcendeu dignamente. Alguém é parente da vítima. Alguém corre e se diverte. Alguém não tem culpa do que acontece. Eu não ligo para toda essa porcaria. Alguém se importa. Alguém está sobre duas rodas e diz que "andar de bicicleta é uma delícia". Alguém perde uma perna.
   Me sinto uma merda. Alguém não se importa. Alguém lê e não se importa. Alguém lê, não se importa, mas finge que sim. Alguém nem lê. Alguém não faz. Alguém que faz e se diverte. Alguém que faz, se diverte e não liga.
   O alguém que passou na frente do hospital pensou "a morte pode ser algo não tão ruim, principalmente para quem morre. Quem continua vivo que carrega o fardo da perda."
   Alguém se sente uma merda, uma legião de alguéns, não dou importância. Eu me sinto uma merda, vou ler, não morri.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

As perspectivas


   Deitado ali, naquele piso que lhe dera tanto prazer, porém está agora se contorcendo. Pessoas o rodeiam, umas duvidam da gravidade do que acontecera “Levanta daí, Du”, “Não adiantar fazer cera, cara, isso não é futebol”. As lágrimas, no entanto, não mentiam que aquilo poderia ser sério, pelo menos o desespero não seria outra coisa que honesto e os que outrora não acreditavam, viam naquele momento a virilidade se desfalecendo. Aquele que há segundos atrás corria, pulava, vibrava, é carregado por companheiros. Chorava copiosamente o garoto, seu joelho não lhe respondia, doía-lhe o movimento antes natural. A tragédia para quem ama, qualquer coisa que seja, é não ser apto a fazer isso.

   Roubei a bola num passe precipitado feito pelo armador do outro time. Saí sozinho no contra-ataque, seria uma bandeja simples, calmamente saltaria, com o joelho direito flexionado e o esquerdo estendido, com a bola na mão mais hábil jogaria suavemente o objeto contra a tabela, marcando assim mais dois pontos. O previsível não aconteceu.

   O Du foi esperto no lance, como sempre. Antecipou-se ao passe e saiu rapidamente para colocar nosso time na frente, estávamos perdendo por um ponto. Uma falha apenas ele cometeu, não percebeu que um dos adversários foi ao seu encalço para tentar pelo menos evitar a cesta. O Du não se preparou para o leve, porém que o fez desequilibrar, empurrão de seu algoz. Apoiou o pé de forma estranha, mas não me pareceu grave, tanto que gritei pra ele se levantar logo e cobrar o lance livre de bonificação.

   Quando vi que o passe iria ser interceptado, corri para tentar pelo menos evitar a cesta deles. Mas não fiz a falta direito, nessas horas tem que meter a marretada, aí o outro só vai ter os lances livres, não tem perigo de conseguir uma jogada para três pontos. Fiz errado, só consegui um empurrão, ele conseguiu a bandeja e o juiz ainda marcou falta, que foi cobrada por outro companheiro, já que aquele saiu chorando de dor.

   Senti um leve toque nas minhas costas que me fez desequilibrar. Deveria ter caído no chão, mas o instinto fez com que eu tentasse apoiar a perna direita naquela superfície. Apenas com as pontas dos dedos senti meu pé tocar o piso, essa manobra fez quem com que esse membro fizesse um movimento para dentro e torcesse meu joelho. Ouvi um estalo, a dor tomou conta do me corpo inteiro, não só daquele lesado, eu sabia o que tinha acontecido. Não controlei o choro, não se sente vergonha quando o desespero é a única coisa que se faz presente.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

À volta.

   Lembrei, por conta do ótimo blog de um não menos ótimo amigo, que eu já havia abandonado os afazeres num sítio similar situado também na famosa internet (net para os intimos), que é esse mesmo no qual escrevo agora. Meus poderes de ser prolixo e nada cômico continuando reinando, pelo visto. Enfim, o fato é que vim visitar essa humilde residência (de palavras torturadas pelo seu escritor) e resolvi, depois de quase dois anos, esboçar algumas palavras por aqui.
   O fato é que não sei se vou continuar ou não por aqui, talvez sim, porém o mais provável é que essa seja a famosa melhora antes do falecimento. Chega de otimismo! O que mudou nesse ínterim? Difícil dizer, alguma pessoa que acidentalmente passar por aqui deve pensar: "Dois anos...é um bom tempo e mudanças são inevitáveis" ; ok, ninguém vai ter esse raciocínio, até pela falta dessas pessoas que leriam essa bagaça. Mas o certo é que elas aconteceram, mas a relevância que eu enxergo nelas não teria esse fator para os outros, simplesmente pelo subjetivismo delas. Atesto, então, que para você, não, não apetece falar sobre transformações.
   Caso esse post não seja um dos últimos antes do adeus - do blog, não seja dramático(a), aviso que continuarei postando aqui o que é relevante, pelo menos egoísticamente. Por esse motivo - e também pela minha falta de capacidade na agonia do escrever -, é provável que poucos corajosos apareçam por aqui. Pode ser que eu esteja errado, afinal, o que é mais comum que o que se sente?