sábado, 31 de março de 2012

À Queda


   Aquele momento em que se escorrega da vida, parte-se do suor para a queda. Queda livre, dizendo-se bem, até o encontro provavelmente derradeiro com a matéria. A partir daí já não se sabe mais o que é livre ou não, já que o resultado também nos é uma incógnita, mas mesmo senão o fosse, a interrogação continuaria. Ela sempre continua, apesar da procura incessante de repostas, esquecendo-se sempre da pergunta. Alguns nos chamariam de burros, eu iria mais pelo lado da ingenuidade, que de burrice muito já é justificado.
   Eu estava falando da queda, pois bem, nos voltemos a ela. Ela pode ser metafórica ou real, falemos sobre o que existe, independente da sua escolha, porém, para mim, aquela é, por mais bizarra e porca que seja, mais charmosa que a outra, sempre cruel, sendo ela qual escolhemos. Entretanto, a minha voz não se faz presente aqui.
   A queda pode ser fruto de um tropicão, o que soaria bobo, mas como estamos falando de realidade, foi assim que se sucedeu. Tropicou-se e caiu-se. Temos atos em cadeia. Poderíamos pensar que se tropicou, caiu-se, desfaleceu-se, morreu-se. Sem saber quem é, tudo é muito bom e divertido.
   A sucessão aqui está clara, pelo menos para quem escreve. Quem lê, o faz como quer, caso queira. Quando a queda de algo tão importante é vista por esses olhos, ela vai-se em câmera lenta, pixel por pixel, para usar a linguagem mais apropriada. O meu tropicão o fez cair, eu tentei agarrá-lo, mas meu reflexo não foi o suficiente para poupá-lo do choque que poderia ser fatal, se o foi saberemos se vida há.
   Para medir o tamanho da tragédia devemos ser honestos, a queda é grande dependendo do tamanho daquilo que cai e da distância. Nesse caso, então, agradeço por poupar-lhe a vida, ó Deus, que deve haver um que cuide dessas criaturas. Ele está vivo, o celular sobreviveu à queda.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A algumas pessoas.


   Alguém passou a frente de um hospital e viu alguém chorando copiosamente. Alguém morreu, transcendeu dignamente. Alguém é parente da vítima. Alguém corre e se diverte. Alguém não tem culpa do que acontece. Eu não ligo para toda essa porcaria. Alguém se importa. Alguém está sobre duas rodas e diz que "andar de bicicleta é uma delícia". Alguém perde uma perna.
   Me sinto uma merda. Alguém não se importa. Alguém lê e não se importa. Alguém lê, não se importa, mas finge que sim. Alguém nem lê. Alguém não faz. Alguém que faz e se diverte. Alguém que faz, se diverte e não liga.
   O alguém que passou na frente do hospital pensou "a morte pode ser algo não tão ruim, principalmente para quem morre. Quem continua vivo que carrega o fardo da perda."
   Alguém se sente uma merda, uma legião de alguéns, não dou importância. Eu me sinto uma merda, vou ler, não morri.