domingo, 26 de agosto de 2012

Ao não.



         
            Fiquei estirado naquele chão azul fitando a desistência do sol. Ele vai desaparecendo aos poucos, levando consigo a sua claridade, aquela luz forte vai se enfraquecendo, tornando-se avermelhada, alaranjada. Algumas nuvens espessas brancas com leves contornos em cinza liberam a fragrância da satisfação.
           - Para que fazer sentido? Meu amigo pergunta perturbado.
           Respondo friamente balançando a cabeça negativamente - não sei - num movimento preguiçoso. O que realmente não fazia sentido era a efemeridade daquela situação. Não apenas a amalgamação das cores trazia uma sensação de vivacidade, mas também aquele contexto. O êxtase em forma de calmaria, brando, apesar do céu enegrecer raivoso com o passar dos segundos.
          É a linda sinfonia do silêncio que nenhuma tecnologia consegue reconstruir. É a inefável vida transformada numa morte delicada, o corpo transcendendo, indo além, chegando ao céu já completamente obscuro.
           - Para quê fazer sentido? Meu amigo não estava mais ali, aquele era agora o eco de uma voz sombria, carregada de ódio. Ela repetia incessantemente essa sentença. Eu gostaria de me libertar, ilusoriamente...que fosse.
             Abro os olhos absorto num entorpecimento cruel, macilento, nojento. Não faço sentido, desfaço um céu, desfaço um chão azul, esvaneço para o inferno. Toco o seu rosto, não faz sentido, que reciprocidade é essa?
             Não faço sentido, seria um absurdo fazê-lo. Vago, apenas vago pelos seus sentimentos imprecisos. Não enegreça, não ouse se materializar, preciso do ideal; do que não pode ser tocado, do que não se putrefaça.