Fiquei estirado naquele chão azul fitando a
desistência do sol. Ele vai desaparecendo aos poucos, levando consigo a sua
claridade, aquela luz forte vai se enfraquecendo, tornando-se avermelhada,
alaranjada. Algumas nuvens espessas brancas com leves contornos em cinza
liberam a fragrância da satisfação.
- Para que fazer sentido? Meu amigo
pergunta perturbado.
Respondo friamente balançando a
cabeça negativamente - não sei - num movimento preguiçoso. O que realmente não fazia
sentido era a efemeridade daquela situação. Não apenas a amalgamação das cores
trazia uma sensação de vivacidade, mas também aquele contexto. O êxtase em
forma de calmaria, brando, apesar do céu enegrecer raivoso com o passar dos
segundos.
É a linda sinfonia do silêncio que
nenhuma tecnologia consegue reconstruir. É a inefável vida transformada numa
morte delicada, o corpo transcendendo, indo além, chegando ao céu já
completamente obscuro.
- Para quê fazer sentido? Meu amigo
não estava mais ali, aquele era agora o eco de uma voz sombria, carregada de
ódio. Ela repetia incessantemente essa sentença. Eu gostaria de me libertar,
ilusoriamente...que fosse.
Abro os olhos absorto num entorpecimento
cruel, macilento, nojento. Não faço sentido, desfaço um céu, desfaço um chão
azul, esvaneço para o inferno. Toco o seu rosto, não faz sentido, que
reciprocidade é essa?
Não faço sentido, seria um absurdo
fazê-lo. Vago, apenas vago pelos seus sentimentos imprecisos. Não enegreça, não
ouse se materializar, preciso do ideal; do que não pode ser tocado, do que não se putrefaça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário