quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

À lista (primeira parte)

   A existência desse blog assaltou-me e - ao invés de roubar algo, como aquele verbo comumente infere, deu-me uma ideia - a de postar algo por aqui. Pensei em alguma estorinha que ocasionalmente, devido aos enormes hiatus no qual esse espaço sofre, dá as caras por aqui. Entretanto, na preguiça do criar jaz meu corpo, por conta disso resolvi fazer uma lista, sim, uma lista! Sobre o quê o leitor fantasma perguntaria. Sobre os 10 romances de maior qualidade que - obviamente - já li nesse período de tempo, nem tão grande, mas, consideravelmente razoável, a que me dedico à leitura de obras literárias. Levando em conta que só posso enaltecer aquilo que conheço, no caso, aquilo que li, é difícil alguém ter algum conflito no que tange às minhas escolhas, a menos que esse alguém tenha conhecimento de, pelo menos, grande parte da minha carga de leitura feita até o presente momento. Meu intuito não é, de maneira alguma, suscitar discussões menos brandas, porém, sim, tentar, de alguma forma, a partir dessa lista, incentivar o conhecimento dos livros que aqui serão citados. Espero comentários, mesmo que sejam para ir contra minhas ideias; debates normalmente são frutíferos. Fiquem à vontade para dar dicas de obras também, elas sempre são bem-vindas.
   As escolhas foram árduas e é importante frizar que, do primeiro ao décimo, se fosse uma corrida, poucos milésimos de segundos os separariam.
   Dividirei em dois esse post: o primeiro, obviamente, do décimo ao sexo, e o segundo, o restante. Faço isso com o pensamento de não ser tão enfadonho.
   Não é meu objetivo mencionar 10 romances que devem ser lidos antes morrer ou algo com tal dramaticidade; o meu critério foi subjetivo, os romances que mais me atraíram estão aí, me desculpem se deixei de fora vários cânones da literatura mundial, mas os romances listados aqui foram de mais valia no que tange ao meu agrado, apenas isso.
   Por último, decidi escolher apenas uma obra de cada autor, para que haja certa diversificação autoral. Entretanto, não deixarei de lado obras grandes dos autores que conheço mais aprofundadamente.

10) O passado(2003) - Alan Pauls



   Para o décimo lugar fiquei entre duas obras: esta e  Dois Irmãos de Miltom Hatoum. Como a literatura contemporânea brasileira estará aqui presente, decido ceder espaço à contemporaneidade literária argentina com a genialidade de Alan Pauls. Lançado em 2003 em seu país de origem e em 2007 por aqui - pela Cosac Naify - O passado trata principalmente de Rímini que, sem explicações maiores, separa-se de Sofia após 12 anos de relacionamentos. O romance é uma construção persistente do passado, o foco da narração, na maioria da obra, estabiliza-se em Rímini, porém a sombra, Sofia, está presente como coadjuvante dentro, mas, também, persistindo exteriormente no protagonista. Fotos, muitas foram tiradas, após o rompimento cabem aos dois decidir como se dará a separação dessas milhares de imagens - o passado físico. Não entrarei em maiores detalhes sobre o enredo, mas as desventuras, as estórias em paralelo, o estilo único de Alan Pauls: tudo isso faz com que essa obra seja única, uma explosão de sentimentos levada às últimas consequências em suas descrições.
Do mesmo autor: A história do pranto também vale a pena, seria até interessante lê-lo antes de O passado, para que o estilo de Alan Pauls seja conhecido e não haja tanto choque.

9) Amada (1987) - Toni Morrison


A vez agora é da literatura americana e de seu contexto político-social retratado de maneira chocante em Beloved (br: Amada). Romance que também nos leva ao passado, sendo ele cruel, demasiado traumático. Sethe, a protagonista da obra, foge da fazenda onde era escrava, no sul dos EUA, para o norte e ,assim, obter sua liberdade. Toni Morrison narra com brilhantismo a saga de Sethe e outros (ex) escravos, colocando em questão a permanência do trauma na mente de homens e mulheres que passam por situações subhumanas, apenas com o objetivo de sobreviver. O trauma se materializa na figura de Beloved, uma jovem que aparece sobrenaturalmente em frente a casa de Sethe.
Da mesma autora: Infelizmente não li mais nada de Toni Morrison, mas logo o farei, pois apenas a leitura de Beloved me cativou fortemente. Agradeço se houver alguma sugestão de leitura.

8) O encontro marcado (1956) - Fernando Sabino


    Não é tão simples assim encontrar autores que escrevam com tanta simplicidade, mas, ainda sim, abordando temas extremamente relevantes de maneira aprofundada; um deles é Fernando Sabino, que não é lá tão prestigiado na maior parte da crítica literária. O encontro marcado é um romance de uma vida, a do protagonista, Eduardo. No estilo informal de Sabino, a leitura nos atrai mais e mais, as façanhas, frustrações, dúvidas, intermináveis conflitos internos de Eduardo são espelhados diretamente para o leitor. O grande triunfo desse escritor mineiro é conciliar brilhantemente uma linguagem coloquial com temas de certa profundidade. É um romance que não deve ser lido, apenas o é por ser encantador, atraente a partir da primeira página. Essa obra nos busca no nosso âmago: é impossível passar ileso por ela.
Do mesmo autor: Sabino escreveu principalmente crônicas e contos, com qualidade inquestionável. Porém, já que estamos lidando com romances, O grande mentecapto é de uma leitura deliciosa. Vale a pena a leitura.

7) A grande arte (1983) - Rubem Fonseca

   O mundo fonsequiano é maravilhosamente degradado. Sexualmente, politicamente, eticamente, socialmente, tudo isso degradado, a partir, obviamente, da nossa visão de mundo. A grande arte tem como protagonista o advogado criminalista Mandrake, mais detetive (sempre fracassando) que advogado, na realidade. Esse encantador canalha é quem nos guia nas várias tramas de um romance que retrata uma sociedade única, na qual nos simpatizamos por assassinos, por amorais, por cínicos. Não se alarme, dentro do universo de Rubem Fonseca isso é altamente normal; ele é um grande construtor de personagens bizarros que nos atraem pelas suas justificativas, seus traços de humanidade.
   A grande arte pode fazer referência ao manejo preciso de armas brancas. Ela é, também, no entanto, a grande arte de escrever e criar; o trabalho do ficcionista que nesse romance é genial, sem nenhum medo de usar esse vocábulo.
   Não há necessidade de comentar o enredo desta obra-prima, ele fala por si só no exato momento que começamos sua leitura. Leitura, aliás, que flui com facilidade, com diálogos bem construídos, ora cômicos, ora extravagantes, ora supérfluos. Subliteratura nada! A grande arte é a prova de como o romance policial, bem construído, pode ir muito além do entretenimento.
Do mesmo autor: Fonseca é mais conhecido pelos seus contos; de qualquer modo, os romances O caso Morel e, principalmente, Agosto confirmam em qual arte este autor é gênio: ficcionalizar.

6) O perfume (1985) - Patrick Süskind

   Acredito que essa seja uma história minimamente conhecida, já que o livro foi transposto para o cinema em 2006. A narrativa se passa no século 18 na França e apresenta uma atmosfera deteriorada, sufocante, fétida, cheirando a urina, merda, madeira podre, enxofre etc. Num parto extremamente bizarro, como se fosse cuspido, Grenouille nasce, uma figura que não enternece a ninguém, pelo contrário, enoja a todos sem uma razão plausível, aparentemente. Ele não transmite nenhum odor, no entanto é capaz de capitá-lo com agudez sobrenatural. São essas duas características, em termos gerais, que dão vida à narrativa.
   Grenouille tornou-se logo um mestre na arte de fazer perfumes e encontrava, de modo contido, grande prazer nessa atividade. Entretanto, seu maior prazer era preservar a fragrância de jovens virgens. É na jornada pela captura do melhor odor possível que o protagonista mata, pois é a única maneira de prendê-lo em sua forma mais original possível.
    Süskind constrói a história de um sentido levado ao extremo, ao prazer, ao assassinato. Grenouille é escravo de seu olfato, como algumas vezes somos de qualquer outro sentido; ele o controla, deixando-o sem livre arbítrio, ele deve capturar essas essências, não há outra saída.
   O perfume descreve de forma fenomenal a jornada de um estranho, um serial-killer que não odíamos, pois retrata um egoísmo puramente humano na busca do maior poder possível.
Do mesmo autor: Caso não esteja enganado, O perfume é o único romance do alemão Patrick Süskind, no mais ele escreveu novelas e uma peça de teatro. Caso tenham algo a me indicar dele, por favor o façam, já que esse romance é a única leitura que tenho desse escritor, pelo menos nessa obra, genial.

(A segunda parte do post estará por aqui até o dia 6 de Janeiro, no máximo. Abraços)

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